sábado, 25 de abril de 2009

25 de Abril de 1974 - 35 anos











"Aqui posto de comando das Forças Armadas. Em aditamento ao último comunicado, o Movimento das Forças Armadas informa a Nação que conseguiu forçar a entrada no quartel da Guarda Nacional Republicana, situado no Largo do Carmo, onde se encontrava o ex-Presidente do Conselho e outros membros do seu ex-Governo.
O Regimento de Lanceiros 2, onde se recolheram outros elementos do seu ex-Governo, entregou-se ao Movimento das Forças Armadas, sem que houvesse necessidade do emprego da força que os cercava.
A quase totalidade da Guarda Nacional Republicana, incluindo o seu comando e a maioria dos elementos da Polícia de Segurança Pública, já se rendeu ao Movimento das Forças Armadas.
O M. F. A. agradece à população civil todo o carinho e apoio que tem prestado aos seus soldados, insistindo na necessidade de ser mantido o seu valor cívico ao mais alto grau. Solicita também que se mantenha nas suas residências durante a noite, a fim de não perturbar a consolidação das operações em curso, prevendo-se que possa retomar as suas actividades normais amanhã, dia 26. Viva Portugal!"

25 de Abril de 1974, às 18:20

(Movimento das Forças Armadas, através da emissão do Rádio Clube Português)

segunda-feira, 20 de abril de 2009

O preservativo, a igreja e as pessoas

As recentes declarações do papa têm corrido o mundo. Um pouco por todo o lado ouvem-se ecos de descontentamento, de espanto e de contestação ao santíssimo padre. Isto porque, seguindo uma lógica de completo isolamento perante o que se faz e se passa no mundo, a igreja deu mais um passo de gigante na sua cruzada pela ignorância e pela constante recusa em se adaptar aos novos tempos (tenho a ideia de que ela não se adapta desde a época da Renascença)...










Como referi atrás, muita gente (incluindo bispos e cardeais) ficou surpresa pela espontaneidade do papa, pela forma como, descaradamente, disse que o preservativo contribuía para a propagação da SIDA.
Bem, a única coisa que me espantou foi o espanto das pessoas. Mas quem é que esperava outra coisa do mais alto representante da igreja? Ele "apenas" é o dirigente máximo de uma instituição / religião que defende que o propósito da relação sexual é exclusivamente o coito para fins reprodutivos. É mais que óbvio que não defende, aliás, que recusa, o preservativo. Mas a igreja não pode mudar uma convicção como esta, ou como a eutanásia e o aborto. São questões que, simplesmente, estão fora do domínio da cristandade. E as pessoas não podem esperar que a igreja católica se transforme completamente só porque "o mundo mudou", e, dessa maneira, ficar mais próxima dos crentes.

Mas continuam a haver muitos fieis apesar de a atitude dos dirigentes não agradar a maioria dos crentes (mesmo que não critiquem, essas atitudes e posições não vão de encontro à realidade das pessoas). Eu penso que há uma razão forte para isto acontecer: a religião católica é uma religião fácil de praticar! Não existem sanções, deus perdoa tudo, não é preciso ir à missa... Apesar de não se ser um "praticante", acredita-se em deus mas não se faz um culto adequado (faz-me muita confusão como é possível ser não praticante. É que uma religião é mais que um jogo de futsal com os amigos. Pressupõe "fazer algo" que demonstre a aceitação de deus, em vez de se ficar em casa e rezar quando dá jeito, quando um familiar adoece, por exemplo). O que me leva a crer que as pessoas não estão minimamente preocupadas no que é que a igreja defende. Ficam muito chocadas e preocupadas, mas esquecem-se logo que começa a jornada da liga de futebol. As pessoas apenas querem retirar da religião algum conforto, quando dá jeito, e querem guardar fotos dos filhos a fazer a primeira comunhão.

Para concluir, o nosso querido amigo José Policarpo veio defender o seu patrão, o que me deu vontade de rir. Ora, ele falou com responsáveis portugueses na matéria que disseram que o preservativo é falível (eu também acho que é! Uns 2%, não?). Nada mais previsível que o fiel seguidor da doutrina que vem dar nas vistas como bem alinhado e em concordância com tudo o que o papa diz. Interessa muito ao cardeal, claro. Sempre engraxa um bocado as botas do Vaticano e é falado na comunicação social. E esta é a história de uma igreja, um preservativo e umas pessoas que só vão à missa nos casamentos, baptismos e funerais.

CBA

sábado, 18 de abril de 2009

Ponto 1: Portugal

Decidi que o primeiro post deste blog será uma ideia genérica sobre o cantinho à beira mar plantado onde eu e mais 10 617 574 pessoas vivemos.

Parece-me que Portugal se vai afundando na sua crónica pequenez, sempre com a ideia de que é um moderno e influente país. Portugal quer ser uma país pequeno com a mania que é rico (o tamanho não conta?) e quer dar aos seus habitantes a vida mais miserável, dentro dos limites do que é ser "civilizado". Mas Portugal "quer"? Um país tem manias? Não. Refiro-me a quem manda em Portugal: a classe política. E como a nossa classe política é uma merda (no verdadeiro sentido da palavra), só nos resta esperar que o país deles também assim o seja, não é?

Em primeiro lugar, a situação geográfica não é a mais indicada para o modelo económico que Portugal tem vindo a desenvolver desde que é visto como um país com mão-de-obra barata. Aliás, mesmo durante o Estado Novo já se admitia que o tal modelo não se ajustava às necessidades reais do país. Como economia aberta, somos constantemente assolados com uma gravíssima pneumonia sempre que o resto do Mundo espirra. E isto acontece porque estamos demasiado e perigosamente dependentes do comércio externo. Portugal não tem capacidade para crescer dependendo apenas de si próprio (situação impossível de acontecer numa economia pequena e aberta) e vamos andando por aqui, bem felizes, a pensar que isto um dia vai mudar para melhor (nos tempos de aflição o status quo altera-se para um pessimismo tradicionalmente português). Portugal, apesar de não poder viver orgulhosamente só, pode ser estruturalmente forte para que a recuperação seja mais rápida quando há uma recessão (pensar que podemos ter um país à prova de recessões e crises é estúpido e demagógico) e para poder convergir com a Europa, em vez de crescimentos de 1%.

E qual a solução? Penso que a solução deve passar por se ter em conta as especificidades do nosso país. Especificidades essas que não contemplam planos tecnológicos da treta e obras megalómanas para agradar os lobbys da construção (alterar PDMs para poder construir onde não é suposto fazê-lo também é política) e para dar trabalho a estrangeiros.

Quero focar que o investimento muitas vezes é mal feito e endividamo-nos sem necessidade (a dívida pública já vai perto dos 80%). A qualidade da intervenção pública em investimento directo é essencial!

Para onde direccionar o investimento?

Na minha opinião, devemos seleccionar três eixos de desenvolvimento e concentrarmo-nos em tirar o maior proveito deles. Isto é, investir neles: Turismo, Energias Renováveis e Mar.

Turismo. Apesar de esta actividade económica gerar um saldo muito positivo na nossa balança comercial, Portugal não é visto como um destino turístico por excelência. Deve ser feita uma campanha massiva que promova a marca "Portugal" e devemos dar muita atenção aos locais ditos turísticos. Basta passar pelo Algarve para constatar erros graves no ordenamento do território e na construção dos famosos "mamarrachos". O que o Algarve tem a mais o Alentejo tem a menos. Uma área previligiada para turismo de qualidade é quase ignorada (fraca rede de transportes, pouca oferta turística, etc.). Podíamos ficar a falar de turismo o dia todo...

Energias Renováveis. Essencial, numa palavra. O país com o maior número de horas de sol e com uma costa vastíssima não aproveita (ainda) o enorme potencial que tem. No futuro, e para nos distanciarmos da necessidade constante de dependermos de países produtores de combustivel fóssil, as energias alternativas têm de desempanhar um papel fundamental na requalificação dos transportes e estrutura de energia doméstica e industrial.

Mar. Como é possível que Portugal não seja a porta de entrada da Europa? Parece difícil acreditar que nunca houve nenhum tipo de investimento grande nesta área. Com excepção aos recentes investimentos em Alcântara e Sines, não tem havido grande vontade política em investir a sério para criar uma via de entrada que seja capaz de ser competitiva e que aproxime um pouco Lisboa, Sines e Leixões ao resto da Europa.

Há sempre as questões da má qualidade da nossa educação, do nosso sistema de saúde insufuciente, da justiça que parece uma anedota (também existem aspectos positivos noutras áreas)... Mas não se pode falar tudo de uma vez. Como escrevi em cima, o objectivo desta reflexão foi responder à pergunta "Para onde direccionar o investimento?".

Sem querer afirmar que "só assim Portugal vai lá", penso que as minhas opções são válidas como ideias, propostas, ou o que lhe quisermos chamar. Fico à espera de comentários, sugestões e etecetera.

CBA