segunda-feira, 8 de junho de 2009

22 para Estrasburgo


O PSD não ganhou as eleições europeias. Na prática quem ganhou foi Paulo Rangel. O candidato escolhido por Manuela Ferreira Leite não foi consensual, chegando até a ser um pouco contestado, e acabou por se revelar uma aposta ganha. Paulo Rangel levou, literalmente, o partido às costas. Fez campanha sozinho; não hesitou na defesa das suas convicções; não se deixou afectar pelas acusações infundadas e irresponsáveis de Vital Moreira (que associou a responsabilidade do caso BPN ao PSD); e, mais importante que tudo, mostrou ser aquilo que tem vindo a rotular a sua imagem de marca na Assembleia da República desde que é líder parlamentar: proactivo, combativo e inteligente nas suas movimentações. No post anterior referi que o PS se arriscava a perder as eleições por causa do um erro de casting (não me vou alongar na minha opinião sobre Vital Moreira porque já o fiz) mas nunca pensei que por uma margem tão grande. Vamos, então, à análise global:


PSD: a reboque de um candidato forte, o PSD ganha algum alento para atacar em força as legislativas com o argumento de que é a única alternativa. Isto é um argumento demagógico e não tem a mínima lógica. O PSD ganhou as eleições porque o voto de protesto na extrema-esquerda (quem é que ainda não percebeu que o Trotskismo do BE não é moderno nem democrático?!) valeu mais de 20%. Se compararmos com os resultados das últimas legislativas, o PSD praticamente manteve a percentagem de votos. O PS, perdendo imensos votos à esquerda, deu a vitória de bandeja a Paulo Rangel. De qualquer maneira, ninguém tira o valor da vitória a Manuela Ferreira Leite, como líder do partido vencedor, e ninguém pode duvidar que, internamente, ela passará a ter uma maior legitimidade (Pedro Passos Coelho retira-se, pelo menos até às eleições)


PS: Não há muito que falar do partido do poder. É notável a maneira como José Sócrates se esquivou da derrota (referindo sempre que o PS obteve um resultado “aquém das expectativas”) e a rapidez com que afirmou que o Governo não alterará uma unha sequer da sua política. Fez o que lhe competia: agradeceu a Vital Moreira pelo empenho que demonstrou desde que aceitou “o projecto”; apressou-se a passar uma mensagem de tranquilidade e de serenidade para com o seu eleitorado; e sublinhou que o PS continua a governar (apesar da histeria do PSD) o país como, aliás, deverá continuar a fazê-lo após as eleições legislativas. O voto em consciência falará mais alto quando os portugueses decidirem quem os governará, o que diminuirá o impacto do voto de protesto.


BE: O Bloco de Esquerda conseguiu o melhor resultado de todas as eleições em que participou e, particularmente nestas, triplicou a sua representação. Afirmou-se como a terceira força política com um candidato, Miguel Portas, que nem surpreendeu nem desiludiu. Mostrou ao seu eleitorado habitual, aos novos apoiantes que votaram pela primeira vez e aos leitores que foram buscar ao PC e ao PS, tudo o que o BE tem para oferecer: um mundo cor-de-rosa onde não há injustiças nem capitalistas malvados para lhes tirar a liberdade. O Bloco nunca mencionou o essencial, isto é, nunca se pronunciou como seria uma sociedade e um governo liderado por eles (esta observação foi levantada por Pacheco Pereira nos comentários aos resultados das eleições, na SIC). E é este tipo de ilusão que o Bloco de Esquerda vai alimentando, com a máscara da modernidade e culpando tudo e todos por todos os males.


CDU: O PC e a sua muleta, chamada PEV, conseguiram absolutamente nada. Apesar de terem subido a sua quota de votos desde as últimas eleições, o único facto que é de salientar é a passagem a quarta força política, sendo ultrapassados por um partido que consideram uma imitação rasca deles próprios. De resto, a sua cabeça de lista foi mais do mesmo (um clone de Jerónimo de Sousa em versão feminina, com o mesmo discurso de sempre) e mantiveram o mesmo número de deputados, quando a intenção era, claramente, chegar à fasquia dos três. Para não desanimar a malta da “comunolândia do Alentejo” (ou República Popular Democrática do Alentejo), é claro que o que mais importou foi enfraquecer o PS, culpado de tudo, inclusive da crise internacional. E, no final de contas, o PC obteve, surpreendentemente, uma vitória sobre as políticas de direita.


CDS: Os democratas-cristãos partiam para estas eleições como o elo mais fraco. O CDS é um partido que faz falta. Em primeiro lugar porque é o único partido com assento parlamentar que é de direita (o PSD é, na minha opinião, um partido do centro: tem nas suas fileiras sociais-democratas, liberais, conservadores e populistas anti-ideológicos), e porque contrabalança com a forte componente de extrema-esquerda que compõem o tecido político português. O CDS apareceu em más condições no início da campanha, com sondagens a darem ao partido resultados como 3%, no máximo. Nuno Melo apresentou-se como um candidato fortíssimo pela notoriedade que ganhou na Assembleia da República, no caso BPN, e por ser o líder parlamentar de um partido que se esforça por zelar pelos interesses do povo (segurança e fiscalidade são óptimos exemplos). Ganhou votos à direita, o seu território, e conquistou também algum voto de protesto. Nota positiva para a maneira como sai reforçado nestas eleições.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Eleições Europeias: Vital Moreira


O PS quis diferenciar-se nesta campanha ao propor um candidato independente. Como homem de esquerda, Vital Moreira agradava à ala do PS que se identifica com Manuel Alegre e agarrava alguns votos à esquerda que foram perdidos nos últimos tempos com as "políticas de direita". O candidato até começou bem. À frente de Paulo Rangel, Vital Moreira, com a sua enorme comitiva (que não poupou para proporcionar a todos um espectáculo à Obama), seria o natural vencedor das eleições. O vencedor independente com o selo do "grande partido popular da esquerda democrática e moderada".

Mas duas variáveis mudaram o curso dos acontecimentos, o conteúdo e a imagem. E foram estas variáveis que fizeram com que o Primeiro Ministro se arrependesse da escolha e passasse, até hoje, o tempo quase todo a acompanhar Vital Moreira para se certificar de que ele não diz o que não deve e para ser sempre o centro das atenções.

Conteúdo: Vital Moreira, o homem de esquerda, é diferente do candidato que o PS pretende. José Sócrates não pensava que o irrequieto candidato andasse a dizer o contrário dele e que o partido viesse desmentir qualquer coisa sempre que Vital Moreira se afasta da linha anti ideológica bem ao estilo do PS de José Sócrates.

Imagem: A imagem é um factor preponderante na política. O maior e mais mediático exemplo de um inteligente uso da imagem é o presidente americano. Mas Vital Moreira tem uma imagem que não é favorável: não cativa nem chama a atenção. E não é adequada para os tais valores da nova esquerda moderada. José Sócrates depressa descobriu isso e apressou-se a acompanhar o seu candidato para todo lado. Aliás, José Sócrates assume-se quase como o candidato enquanto recebe banhos de multidão. Vital não tem jeito para falar em público, repete muita coisa e não parece acessível para as pessoas.

A acrescentar a tudo isto, o PS vai ficando muito mal visto pelos recursos que emprega nesta campanha (em contraste com as contenções orçamentais, e a meu ver exemplares, dos outros partidos) e por Vital Moreira se mostrar menos combativo e activo que o seu adversário, Paulo Rangel. O PS arrisca-se a perder estas eleições por causa de um erro de casting. Uma má escolha proporciona um mau resultado que terá sempre muita influência nas eleições legislativas. Neste momento há um empate técnico e ainda muita coisa por decidir.