segunda-feira, 20 de abril de 2009

O preservativo, a igreja e as pessoas

As recentes declarações do papa têm corrido o mundo. Um pouco por todo o lado ouvem-se ecos de descontentamento, de espanto e de contestação ao santíssimo padre. Isto porque, seguindo uma lógica de completo isolamento perante o que se faz e se passa no mundo, a igreja deu mais um passo de gigante na sua cruzada pela ignorância e pela constante recusa em se adaptar aos novos tempos (tenho a ideia de que ela não se adapta desde a época da Renascença)...










Como referi atrás, muita gente (incluindo bispos e cardeais) ficou surpresa pela espontaneidade do papa, pela forma como, descaradamente, disse que o preservativo contribuía para a propagação da SIDA.
Bem, a única coisa que me espantou foi o espanto das pessoas. Mas quem é que esperava outra coisa do mais alto representante da igreja? Ele "apenas" é o dirigente máximo de uma instituição / religião que defende que o propósito da relação sexual é exclusivamente o coito para fins reprodutivos. É mais que óbvio que não defende, aliás, que recusa, o preservativo. Mas a igreja não pode mudar uma convicção como esta, ou como a eutanásia e o aborto. São questões que, simplesmente, estão fora do domínio da cristandade. E as pessoas não podem esperar que a igreja católica se transforme completamente só porque "o mundo mudou", e, dessa maneira, ficar mais próxima dos crentes.

Mas continuam a haver muitos fieis apesar de a atitude dos dirigentes não agradar a maioria dos crentes (mesmo que não critiquem, essas atitudes e posições não vão de encontro à realidade das pessoas). Eu penso que há uma razão forte para isto acontecer: a religião católica é uma religião fácil de praticar! Não existem sanções, deus perdoa tudo, não é preciso ir à missa... Apesar de não se ser um "praticante", acredita-se em deus mas não se faz um culto adequado (faz-me muita confusão como é possível ser não praticante. É que uma religião é mais que um jogo de futsal com os amigos. Pressupõe "fazer algo" que demonstre a aceitação de deus, em vez de se ficar em casa e rezar quando dá jeito, quando um familiar adoece, por exemplo). O que me leva a crer que as pessoas não estão minimamente preocupadas no que é que a igreja defende. Ficam muito chocadas e preocupadas, mas esquecem-se logo que começa a jornada da liga de futebol. As pessoas apenas querem retirar da religião algum conforto, quando dá jeito, e querem guardar fotos dos filhos a fazer a primeira comunhão.

Para concluir, o nosso querido amigo José Policarpo veio defender o seu patrão, o que me deu vontade de rir. Ora, ele falou com responsáveis portugueses na matéria que disseram que o preservativo é falível (eu também acho que é! Uns 2%, não?). Nada mais previsível que o fiel seguidor da doutrina que vem dar nas vistas como bem alinhado e em concordância com tudo o que o papa diz. Interessa muito ao cardeal, claro. Sempre engraxa um bocado as botas do Vaticano e é falado na comunicação social. E esta é a história de uma igreja, um preservativo e umas pessoas que só vão à missa nos casamentos, baptismos e funerais.

CBA

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